Álbum Preto – Felipe Camilo

1º Prêmio de Fotografia | Adelina Instituto

Trabalho Premiado

Álbum Preto
Ensaio/Livro de artista
2021

Álbum preto relaciona retratos e saudosas notas obituárias de pessoas negras à trajetória de vida do autor e suas próprias imagens. Homem negro de 36 anos, com a sorte e a culpa dos sobreviventes, Felipe Camilo trabalha neste livro de artista desde 2020, no qual realiza uma prece, seguida de honrosas notas sobre pessoas vítimas de violência racial, postas em paralelo cronológico às memórias do autor na idade de morte destes que já não se encontram mais aqui. Assim, o livro é uma espécie de álbum coletivo ou de ficção biográfica composta por acontecimentos e fotografias de pessoas de diversas idades, tendo como constante narrativa o movimento gradual pelas fases da vida do autor – infância, adolescência e juventude. Dessa forma, reconhecemos nomes de garotos mortos precocemente por ação policial no Brasil – como João Pedro no Rio, ou os jovens Pedro e Renayson mortos na Chacina do Curió no Ceará, ou o adulto Evaldo, morto com 80 tiros de fuzil, ou ainda o griô Mestre Moa, morto na Bahia em 2018. As motivações dos assassinatos variam, mas a cor da pele não. Somos todos negros, os que partiram e os que conservam respeitosamente suas memórias.
As fotografias foram impressas em fitotipia, com a própria clorofila das folhas que lhe servem de suporte, colhidas de uma “árvore da felicidade”. Técnica efêmera de impressão, a fitotipia produz imagens que vanecem, tanto pelo suporte delicado, como pela ação da luz e dos fungos. Produzir um álbum com folhas coladas, a esmaecerem os retratos gravados nelas, tem por finalidade um gesto de prece e de cura para a narrativa de vidas negras neste mundo.
O Álbum teve seu miolo produzido por uma artesã negra e sua capa foi reapropriada de uma bíblia de guarda escura com zíper. A ideia de tal apropriação tensiona os valores cristãos num país em que se matam tantos jovens de pele escura, como também busca sacralizar essas vidas perdidas e sua memória. As páginas pretas com folhas, são antecedidas com página transparente com breve nota obituária ou biográfica que se sobrepõe à imagem. Assim temos texto sobre etiqueta branca que folheado dá visão aos retratos alternados, ora daqueles que já partiram, ora do autor.
Álbum Preto tem como referências as obras de artistas negres como Eustáquio Neves, Aline Motta, Rosana Paulino e também do vietnamita, Binh Danh. Felipe Camilo trabalha com fitotipia desde 2015, tendo lançado em 2018 a exposição individual e o fotolivro “Perecível” de retratos, relatos e haicais. Em seus trabalhos, busca colocar sua memória como espécie de ‘prótese’ do imaginário coletivo. O livro de artista, álbum preto, é desdobramento desse processo, uma alusão à fragilidade, mas também à alegria e à potência inventiva de vidas negras.

Felipe Camilo
Artista negro cearense com enfoque em fotografia e cinema. Dedica-se ao documental e à experimentação. É doutor em Ciências Sociais e Mestre em Educação Brasileira pela UFC. Pesquisador pela CAPES e pelo Lajus, escreveu tese sobre antropologia, imagem, memória e negritude. Foi professor do Instituto de Cultura e Arte da UFC. É membro do Ifoto/Ce e do Fresta Lab.. É autor do fotolivro Perecível e do livro de artista Álbum Preto. Dirigiu os docs. Memórias do Subsolo, Oestemar, Precorona e Aluá. É co-idealizador do Efêmero Festival de Fotografia Experimental

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